quarta-feira, 25 de novembro de 2009

A Sala


Entro na sala e olho em redor. As paredes são brancas e incólumes. Nada me pode incomodar dentro desta sala pequena e aconchegante.
Oiço as bombas a cair lá fora mas não me perturbam. Não me agitam. Nada. Nem um pestanejo.
Sinto o mal a penetrar as paredes mas não tenho medo. Dentro da minha salinha estou seguro. Ou pelo menos é o que gosto de pensar.
A sala encolhe e o desconforto invade-me. As paredes começam a mudar de cor para um cinzento alarmantemente deprimente.
A sala é agora a minha cela.
Ignorando o sofrimento, fico quieto e espero que pare. Mas não para.
Algo invisível de expande dentro da minha sala consumindo o meu espaço o o meu ar. Não sinto, não respiro, não vejo.
As paredes estão pretas. Um som ensurdecedor. Silencio.
Uma luz ténue passa por uma brecha da negra parede mostrando-me que afinal lá fora não é assim tão mau. Basta arriscar e ter coragem. Levantar-me quando caio e não ter medo. Afinal não posso aspirar ser feliz durante mais do que um momento de cada vez. Mas a cada um desses momentos esqueço a minha sala, o meu escudo, e deixo o mundo entrar. O mundo confuso, frio e mau. Que magoa. Que me devora o espírito e me oprime o ser.
Não posso parar de viver só porque me dói. Ainda tenho forças para lutar e vou lutar pelo que quero e acredito.
A sala está agora distante e a ínfima lembrança dela tolda-me o pensamento.
Quero ser feliz, só quero ser feliz. Mas o desespero invade-me e perco a batalha.
Sinto-me agora sem forças. Espezinhado por existir. Ninguém quer saber.
Será que peço demais?
O golpe foi demasiado duro e dilacerou-me por completo. A arma mais letal cortou-me de cima a baixo. Golpeou-me até me tirar a vontade de me mexer. Mas não me vou ficar.
Perdi a batalha mas não desisto ainda. Sei o que quero e no que acredito e vou até ao fim. Enfrento todos os obstáculos, aceito todas as consequências e no final... não está nas minhas mãos.
Continuo a lutar e a fugir da minha pequena sala onde apaticamente vejo a vida que passa temendo segura-la.
Grito. Desespero. Desisto?
Abro os olhos. Ainda cá estou. A minha sala não desapareceu. Apenas abri a porta e agora a vida pode entrar.
Onde está a tua sala? Posso entrar?

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