Politicamente, o mapa de Portugal tem uma inclinação de 90º no sentido dos ponteiros do relógio.
O Norte fica á direita e o Sul á esquerda (partindo do principio que o PS seria esquerda como originalmente pensado). Resumindo e concluindo, somos um pais atravessado. (E atravessado é pior que bêbado).
O que explica perfeitamente a nossa mentalidade. O que é bom é deitar abaixo. Ficar á coca á espera que os outros falhem para podermos dar o proverbial pontapé na cabeça para caírem de vez.
Somos sempre os piores, os mais burros, os mais incompetentes, os mais feios... em suma, somos uma merda. (Mesmo assim sou Tuga e com orgulho)
A outra parte destas eleições que me fez sorrir e dizer "Eu não disse" foi o facto de as pessoas estarem tão embrenhadas nas suas afiliações partidárias que se recusam a ver o óbvio (não privam como Capitão Óbvio como eu). Dou o exemplo de Setúbal (que é o que posso falar de conhecimento e proximidade), nos diferentes círculos políticos e sócio-culturais cada cabeça a sua sentença apontando os podres uns dos outros em vez das suas próprias propostas e de obra feita. Um exemplo fulcral de "cegueira politica" foi o espectro dos Vitorianos achar que o Jorge Santana tinha alguma hipótese de ganhar (ou até alguma expressão politica). Disse na altura que, excepto para os Vitorianos e para os Setubalenses mais atentos, ninguém sabe quem é o senhor. Resposta "Ah não e tal". Agora respondo eu "I told you so". A Maria das Dores teve uma vitória expressiva e vamos acreditar que a tal mãozinha ao Vitória sempre chegue. (Porque os resultados... sheesh, ainda tou com azia)
Mas nem tudo são sorrisos e há também lugar para a critica. Os portugueses são um povo a quem os OCS privaram da capacidade de decidir.
Para os OCS nestas eleições só existiam 2 partidos (preciso dizer quais?), assim como no futebol só existem 3 equipas.
Como somos burros é melhor não nos confundirem com termos esquisitos como Trotskistas, capitalistas ou Anarco-leninistas com inclinações para o maoismo. E Deus nos livre e guarde de uma nova monarquia. (Disso nem sequer vou falar, mas o Dom Duarte e a sua Isabelinha a reinar ia ser de gritos)
9:30 - O candidato independente á junta de freguesia de Fornelhos do Olival, José Carlos Gedeão, 57 anos feitos em Junho, acorda, barbeia-se, veste-se sai de casa direito á mesa de voto.
10:15 - Passa no "Café Piano" mais conhecido pelo café da dona Extrudes para beber um café e comer um bolo de leite. Prossegue a marcha a pé para a mesa de voto.
10:23 - Encontra um amigo de infância que não via há 9 anos e faz conversa educada durante alguns minutos. Despede-se com um até a próxima e o amigo deseja-lhe sorte com a eleição.
10:31 - Entra na escola primária EB1 da Cruz de Santa Rita e dirige-se á sala nº 5 para efectuar o seu voto.
10:35 - Sai estoicamente com o sentido de dever cumprido e dirige-se a Associação Desportiva de Fornelhos para ver o jogo referente á 5ª jornada do Campeonato Distrital da 2ª divisão entre o A.D. Fornelhos e o C.F. Arganaz.
11:01 - Chega ao estádio e é congratulado com uma salva de palmas por parte dos espectadores do jogo. Acena com a mão e senta-se na 3ª fila da bancada na zona central.
11:37 - Golo do Fornelhos. Jogada de entendimento pelo flanco direito com o extremo senegalês Fáfi a centrar para a cabeça de Simões que marca um golo de belo efeito.
11:45 - Intervalo. Vai ao bar comer uma bifana e beber uma mini. Confraterniza com o povo da freguesia que lhe vai dizendo "Já está ganho". Será o jogo ou a eleição?
12:00 - Recomeça o jogo.
12:41 - Golo do Arganaz. O capitão Mamede rasteira o avançado Djongo e concede penálti. Recebe o cartão vermelho directo, o que provoca uma reacção exaltada da plateia.
12:44 - Golo do Fornelhos. O capitão Mamede cospe para o guarda redes enquanto se dirige aos balneários e enquanto este sai da baliza para tirar satisfações, o médio ofensivo Antonino marca um golo de longa distância.
12:45 - Apito final e a festa do Fornelhos. Vai ao balneário congratular os jogadores por terem saído da "linha da água".
13:00 - Dirige-se ao Restaurante O Batelão para se encontrar com a Dona Suzete de Piões, viúva avantajada com quem tem uma amizade especial.
15:10 - Acaba o almoço e, entre alguns inuendos e gracinhas, troca um beijo com a senhora.
15:30 - Dirige-se com a companheira ao cinema "Dom Pedro" no centro comercial de Fornelhos e assistem ao remake do filme "Fame".
17:05 - Derrama uma lágrima na cena em que a mocinha não consegue fazer a coisa.
18:00 - Sai do cinema de mão dada com a D. Suzete e, após a deixar em casa com um beijo de despedida, dirige-se á sua residência para assistir aos resultados da eleição na TV.
18:22 - Chega a casa. Tira os sapatos e a gravata e calça umas pantufas em forma de Cocker Spaniel que comprou no mercado semanal.
18:30 - Bebe uma cerveja enquanto aguarda pela emissão.
19:00 - Começa a emissão das autárquicas que segue atentamente.
19:30 - A mão começa a doer do zapping veloz e decidido que vem a fazer na ultima meia hora.
19:42 - Adormece.
22:57 - Acorda sobressaltado pelo barulho da campainha. Que horas são? E quem será a esta hora? E qual foi o resultado?
23:00 - Calça-se de novo e coloca a gravata. Abre a porta e observa uma pequena multidão de pessoas a gritar "Zeca, Zeca...".
23:02 - Finalmente percebe que ganhou. Era o novo presidente da junta.
23:45 - Festeja por toda a vila na caixa da Pick up do vizinho Antunes que nessa semana não tinha ido á caça nesse fim de semana de propósito para comemorar a vitória do vizinho.
23:47 - Um furo no pneu, uma guinada forte e um candidato recém eleito a voar com violência contra a parede da Junta de Freguesia.
23:56 - O povo junta-se em volta do autarca imóvel e ensanguentado.
23:58 - A custo diz as seguintes palavras. "Quero que saibam que cheguei onde queria. Fui eleito como representante de todos vós. Encontrei o amor. O meu clube ganhou. A minha campanha baseou-se na amizade que tenho com todos vós e no amor que tenho por Fornelhos do Olival e não numa competição irrisória contra uma pessoa que mal conheço e á qual não desejo qualquer mal."
23:59 - Toda a gente chora, uns mais profusamente que os outros.
24:00 - Faleceu o autarca José Carlos Gedeão. Ensanguentado, com a cabeça desfeita, os ossos partidos mas com um sorriso que só pode querer dizer "Adeus e obrigado".
Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.
Bom vamos agora á parte que interessa. Porque raios escrevi eu o dia de um autarca recém eleito que depois morre?
É porque tenho uma duvida acerca deste assunto.
Ouvi á pouco na rádio que um candidato para a Junta de Freguesia dum sitio qualquer que não apanhei, dirigiu-se á mesa de voto onde estava o marido da opositora e matou-o a tiro encontrando-se agora fugido da lei. (Provavelmente á altura que estão a ler isto já sabem mais do que eu).
Desviei a história um bocado para o lado e pensei... se o autarca morre no dia das eleições quem é que o substitui?
O nº2 da sua lista? O candidato que ficou em 2º lugar? É feito um novo sufrágio?
Bom fico com a esperança que um dos 563 analistas políticos que frequentam este espaço de onanismo mental me possam satisfazer a curiosidade.
Por agora só digo "Adeus e obrigado".
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